terça-feira, 10 de março de 2009

Velocidade média e o gosto pelo saudosismo

Advertência inicial: ao ler este post está a rejeitar qualquer 
futura acusação de discriminação em razão da idade.

Em outras alturas, que agora vou relembrar, reflecti sobre diferentes problemas da nossa sociedade. Males ou desconfortos que perturbam a nossa vivência e corroboram com essa grande divisa da existência moderna - a inactividade. 
Pois bem, retomo a tarefa e venho hoje falar-vos de um grande mal que tem invadido as nossas farmácias e transtornado a nossa busca incessante pela saúde corporal e mental: o dedinho de conversa. Este mal foi introduzido por esse estrato social, também faixa etária, que é a terceira idade, mas já se expandiu e tem vindo a quebrar fronteiras que tínhamos por robustas e incontestáveis. 
Toda esta minha revolta começou a semana passada, quando tive de ir à farmácia comprar um produto de tratamento capilar. Cheguei ao estabelecimento comercial e regozijei-me quando vislumbrei apenas três pessoas à minha frente e quatro caixas abertas. Acabei, contudo, por estar cerca de trinta minutos à espera do tão desejado atendimento à saúde. E porquê, por causa do dedinho de conversa. 
O utente português não se contenta com a sua saúde, quer mais ainda, quer ir mais além. Até aonde, perguntam vocês. O céu é o limite, é tudo o que tenho a dizer. Querem ir até às casas dos farmacêuticos, às lojas dos restantes utentes, aos filhos, sobrinhos e enteados dos amigos, ao cabeleireiro da vizinha, ao café do primo. Querem falar sobre a tensão arterial, o peso, as unhas dos pés, a falta de sono, mas também das nuances da filha, da escola primária do neto, dos problemas da juventude, dos problemas do farmacêutico, da nova panela de pressão. Do céu, da terra e do menino Jesus. E nem sequer é Natal. 

Por tudo isto e muito mais (sim, é possível mais), a terceira idade é responsável pela perturbação do decorrer normal da vida. Mexem com essa constante determinante, que equilibra e regula a vida e permite a vivência em sociedade: a velocidade média de acção. 
A velocidade média de acção é a medida de todas as coisas temporais em sociedade:
- é o tempo que o metro demora a chegar;
- o tempo que o sinal demora a ficar verde, de novo;
- o tempo que demora o percurso até ao trabalho;
- o ritmo com que subimos as escadas rolantes ou a rapidez com que cedemos a passagem e tomamos o seu lado direito;
- o tempo que demoramos a dizer olá a um conhecido;
- o tempo que demoramos a pedir um café;
- o tempo que demoramos a pedir a m+*#$& dos medicamentos e outros produtos farmacêuticos. 

Esta ordem das coisas está a ser minada pelo cidadão sénior e, em jeito de revolta, ameaça penetrar as camadas mais jovens da sociedade.
O cidadão sénior tem que ser travado. Tem de ser relembrado do valor da saúde e de se contentar com o mesmo. 
Por tudo isto, que é o bem comum!, peço o fim do dedinho de conversa na fila da farmácia.

O saudosismo, esse está aqui.