terça-feira, 27 de maio de 2008

Questões Relevantes

Esta coisa de serem só alguns a escrever de quando em vez está-me a deixar ultrajada. E para que não me digam, injustamente, que o tom é demasiado intelectual, deixo aqui um importante anúncio:


E agora glosem, como é devido!

sábado, 17 de maio de 2008

sábado, 10 de maio de 2008

Não Quotizem a Vagina

  A Lei 3/2006, que estabelece as famosas quotas femininas para cargos políticos, veio determinar que se entende por paridade a representação mínima de 33,3% de cada um dos sexos ou géneros. Não fosse a lei ser declarada inconstitucional, por violação do princípio da igualdade, os senhores deputados e deputadas esquivaram-se ao flagrante sexismo e ficaram-se pela hipócrita misoginia velada, não dizendo frontalmente que queriam fazer desfilar umas quantas mulheres nas campanhas políticas. 

Como não sofro de acefalia, consegui chegar à conclusão, tal como todos nós, de que a Lei se referia, sim, a uma representação mínima de 33,3% do sexo feminino. De facto, não estou a ver a Assembleia a legislar para o futuro e a salvaguardar a hipótese de haver menos de 33,3% de homens nas listas de eleições.

 

Para além do ridículo e bizarro entendimento de que a minha vagina ou o pénis de um qualquer senhor devem conferir o direito a ser eleito, independentemente de qualquer mérito, esta lei emana do mais retorcido e sombrio sentimento de machismo que preside as nossas instituições e partidos políticos.

Explicitando, os senhores deputados, membros dos vários partidos políticos, legislaram dispondo que as listas que esses mesmos partidos elaborarem deverão conter um mínimo de representantes femininas. Não sei se estão a ver aonde quero chegar, mas clarifico ainda mais, a incapacidade de nomear mulheres com base no seu mérito é tal que os partidos tiveram de se obrigar a fazê-lo, legislando para si mesmos. Só que agora a vagina está representada porque existe, não porque um cérebro capaz integra o mesmo corpo.

 

No meio da histeria do aniversário do Maio de 68, achei por bem referir o ridículo desta Lei que, em dois anos, pouco ou nada mudou. E pouco me espanta que, na sequência desta nova moda das quotas femininas, criadas em vários países europeus, se tenha passado a fazer um exercício de vénia aos senhores Primeiros-ministros que nomeiam mulheres para os seus Governos, pelo simples facto de terem uma vagina, dois seios ou um bebé no útero (como a Ministra da Defesa espanhola). Ou que o primeiro artigo de jornal sobre a Chanceler Angela Merkel tenha focado esse aspecto determinante da condução de um País que é a indumentária, tal como aliás, os escritos sobre Ségolène Royal. 

Neste Maio de 2008, lembro ainda que alguns dos países mais ortodoxos do Planeta já tiveram Presidentes ou Primeiras-Ministras mulheres, tais como a Índia, o Paquistão, a Indonésia e a Turquia, entre outros. Talvez o problema não esteja na falta de quotas!  

Recordo também que neste Maio de 2008 se festeja quase um século sobre a data do primeiro voto feminino em Portugal, o voto de Carolina Beatriz Angelo em 5 de Maio de 1911. 

E neste Verão de 2008, faz quatro anos que se negou, pela primeira vez, a um ex-Primeiro-ministro funeral com honras de Estado - o funeral da segunda primeira-ministra europeia, Maria de Lurdes Pintasilgo. 

 

Por fim, em Maio de 68 a única mulher Primeira-ministra em activo era Indira Gandhi (hoje, em Maio de 2008, a Presidente da Índia é Pratibha Patil), quase 100 anos depois de Susan B. Anthony, uma das mais relevantes feministas e sufragistas a nível mundial, ter sido julgada em tribunal por votar ilegalmente. 

 

Por favor, não quotizem a vagina, gostava que o meu órgão sexual reprodutivo deixasse finalmente de ser relevante no século XXI.